No dia 09 de maio de 2013, há exatos 12 anos, um dia após Sir Alex Ferguson anunciar sua aposentadoria, o Manchester United anunciava o também escocês David Moyes como seu sucessor.

O que parecia ser uma transição natural, com o respaldo do próprio Ferguson, acabou marcando o início da maior crise técnica e institucional da história recente do clube.

Do caos antes de Ferguson à hegemonia

Quando assumiu o United em 1986, Ferguson herdou um time mais próximo da zona de rebaixamento do que da briga por títulos. Com uma mudança cultural profunda, implementou uma filosofia baseada em disciplina e desenvolvimento de jovens jogadores.

Dessa cultura emergiram nomes como Ryan Giggs, Gary Neville, Nicky Butt, Paul Scholes e David Beckham, além de desenvolver futuros craques como Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney.

Os primeiros 4 anos foram difíceis. Em 1990, com campanha ruim na liga, Ferguson parecia com os dias contados. Contudo, uma classificação para a final da Copa da Inglaterra salvou o cargo — e o escocês venceu seu primeiro torneio.

• Foi o único momento, inclusive, em que ficou fora do TOP-3 da liga em 25 temporadas completas.

Quando ele assumiu, o United possuía 1 Liga dos Campeões e 7 títulos ingleses, enquanto o Liverpool era o maior campeão com 18 troféus.

Da hegemonia ao caos, depois de Ferguson

Desde sua a saída, a realidade mudou drasticamente. David Moyes durou apenas 10 meses no cargo. Na temporada 2013/14, o United foi o 7º lugar na Premier League — sua pior posição em 24 anos — e ficou fora da Champions League pela primeira vez desde 1995.

Nos 11 anos seguintes, o clube teve mais 9 técnicos diferentes. Nenhum conquistou a Premier League e sequer durou mais de 3 temporadas. Foram apenas 7 títulos em todo o período: 2 Copa da Inglaterra (2016, 2024), 2 Copa da Liga Inglesa (2017, 2023), 2 Supercopa da Inglaterra (2014, 2017) e a Europa League (2017).

Números decepcionantes para quem gastou mais de £1,6 bilhão (R$ 12 bi) em 65 jogadores, incluindo as 17 maiores contratações da sua história, sendo o TOP-5:

1. 🇫🇷 Paul Pogba (2016/17): €105 milhões
2. 🇧🇷 Antony (2022/23): €95 milhões
3. 🏴󠁧󠁢󠁥󠁮󠁧󠁿 Harry Maguire (2019/20 e único ainda no clube): €87 milhões
4. 🏴󠁧󠁢󠁥󠁮󠁧󠁿 Jadon Sancho (2021/22): €85 milhões
5. 🇧🇪 Romelu Lukaku (2017/18): €84,7 milhões.

Apesar dos investimentos, a média de colocações na Premier League variou entre 4º e 6º lugar. Enquanto isso, os rivais Liverpool e Manchester City prosperaram:

• O Manchester City acumulou 21 títulos no período, incluindo 7 Premier Leagues e sua primeira Champions League.
• O Liverpool conquistou a Champions League e a Premier League duas vezes, a última nesta temporada, igualando-se como maior campeão com 20 títulos ingleses.

Nada é tão ruim que não possa piorar?

No United, isso não se aplica. Fora de campo, os torcedores criticam duramente a Família Glazer, atual proprietária, e a entrada do novo sócio Sir Jim Ratcliffe piorou a crise, principalmente quando rompeu o vínculo com o próprio Ferguson como embaixador do clube — aprofunde aqui.

• Nem mesmo o projeto do novo Old Trafford pôs panos quentes na relação dos torcedores com os donos.

Com 3 rodadas a disputar, o clube vai alcançar as piores marcas da sua história:

• No máximo 48 pontos (recorde negativo: 58 em 2021/22);
• No máximo 13 vitórias (pior marca: 16 em 2021/22);
• Já tem 16 derrotas, recorde absoluto (marca anterior: 14 em 2023/24);
• Apenas 42 gols marcados (8 a menos que a temporada 2015/16);
• Ocupa o 14º lugar, com 12º como melhor possível (abaixo do 8º lugar de 2023/24).

Mais impressionante é que durante toda a Era Ferguson, o United teve 114 derrotas em 810 jogos de Premier League. Desde então, já são 117 derrotas em 452 partidas.

Apesar disso, o time se classificou para a 3ª final de Europa League da sua história.

As glórias de Sir Alex Ferguson viraram sombra para os sucessores. Contudo, olhando para o cenário quando ele assumiu e as dificuldades do início, sua própria trajetória pode ser o espelho para a retomada de um dos maiores clubes do mundo.