Nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças não é apenas um feriado dedicado a jantares em família e desfiles. É também o dia do futebol americano, uma tradição que começou no século XIX e, com o tempo, se tornou tão essencial quanto o peru à mesa.

Mas como o esporte e o feriado se entrelaçaram para criar esse ritual que hoje une milhões de americanos?

A história começa em 1863, quando Abraham Lincoln declarou o Thanksgiving um feriado nacional, em meio à Guerra Civil, como um esforço para unir o país.

• Curiosamente, essa decisão coincidiu com os primeiros passos do futebol como esporte universitário.

Mesmo assim, a conexão não agradou a todos. Em 1893, o jornal New York Herald criticava o que chamava de “distorção” do feriado:

O Dia de Ação de Graças não é mais um festival solene a Deus pelas misericórdias dadas. É um feriado para ver futebol.

Mas foi a NFL que transformou o Dia de Ação de Graças em um espetáculo. E dois times, em especial, carregam esse legado: Detroit Lions e Dallas Cowboys.

O pioneirismo ficou por conta dos Lions. Em 1934, George A. Richards, dono da franquia, decidiu usar o feriado para atrair fãs. Ele organizou um jogo contra os Chicago Bears, que foi transmitido nacionalmente pela rádio NBC e atraiu 26 mil torcedores ao estádio – lotação máxima na época.

A partida terminou com derrota dos Lions por 19 a 16, mas a iniciativa foi um sucesso tão grande que virou tradição. Desde então, o time já disputou 85 partidas no Thanksgiving, mais do que qualquer outra equipe, acumulando 38 vitórias, 45 derrotas e 2 empates.

Décadas depois, em 1966, o Dallas Cowboys entrou no calendário do feriado visando alavancar a marca e sua base de fãs, e a aposta valeu a pena: vitória por 26 a 14 contra os Browns e um público de 80 mil torcedores no Cotton Bowl.

Com ascensão da franquia, que se tornou o “American Team”, a tradição do feriado também ganhou mais relevância, permitindo que o Dia de Ação de Graças e o futebol profissional ficassem intrinsecamente ligados.

Hoje, o Dallas Cowboys é a franquia mais associada ao Dia de Ação de Graças, com 33 vitórias em 56 jogos disputados.

Mas nem todas as franquias gostavam desse “monopólio”. Por isso, a partir de 2006, a NFL adicionou um 3° jogo ao horário nobre, trazendo novas equipes para o palco e elevando as audiências a níveis ainda mais impressionantes.

No feriado, o futebol americano é quase um "horário nobre fixo" da TV americana. Veja alguns momentos marcantes:

• 25/11/1993 — Cowboys bloqueiam field goal da vitória do Dolphins a poucos segundos do fim, mas defensive tackle de Dallas comete gafe inacreditável que permite a vitória de Miami;
• 26/11/1998 — Randy Moss se “vinga” dos Cowboys com 3 TDs pra 163 jardas no seu ano de calouro;
• 25/11/2004 — Peyton Manning dá show e termina a partida com mais touchdowns do que passes incompletos;
• 22/11/2018 — Mark Sanchez e o fumble mais “tosco” da história da NFL.;

Já nesta temporada…

Depois de 8 anos, os Lions voltaram a vencer no feriado, mas foi com muita emoção. A equipe de Detroit finalizou o 3° quarto vencendo o Chicago Bears por 23 a 7 no placar, mas uma bobeada da equipe colocou quase tudo a perder.

Quase, e somente quase, porque Calleb Williams (QB dos Bears) ao lado do head coach do time protagonizaram uma das maiores bobeadas da história recente dos jogos no feriado.

Precisando avançar poucas jardas para ter a condição de chutar um field goal e levar o confronto para a prorrogação, a equipe dos Bears, mesmo tendo um timeout para pedir, deixou o relógio rolando, não conseguiu fazer a jogada correta e acabou perdendo o jogo — veja aqui. Isso é o que eu chamo de gestão. risos.

Quem também seguiu bem a tradição foi o Dallas Cowboys, que venceu o New York Giants por 27 a 20, além do Green Bay Packers, que fechou o feriadão com uma vitória de 30 a 17 pra cima do Miami Dolphins.